Teólogo diz que há assédio nas igrejas e que parte do preconceito contra homossexuais se deve a traduções erradas da Bíblia
Nascido no Chile, tem 31 anos e vive em São Paulo há 27. Assumiu a homossexualidade há sete anos
Formado em teologia no Instituto Betel, com pós-graduação em ciência e religião. Ordenado na Assembléia de Deus, saiu para fundar a própria igreja, a Acalanto
A Igreja Metodista está entre as mais tradicionais denominações protestantes.
A Assembléia de Deus é famosa como uma das mais rígidas – muitos pastores ainda recomendam aos fiéis que não assistam à televisão e às mulheres que não usem calças para não ressaltar os quadris.
O chileno Victor Ricardo Soto Orellana, de 31 anos, foi criado numa família metodista em São Paulo e ordenado pastor na Assembléia de Deus. Formado em teologia e pós-graduado em ciência e religião, já deu aula em três seminários. O que o diferencia da grande maioria dos religiosos é que ele é gay, e admite isso publicamente. Ainda, contesta as interpretações mais difundidas sobre o texto bíblico, que, em tese, condenam o homossexualismo. Polêmico, ele afastou-se recentemente da Assembléia para fundar sua própria igreja evangélica, a Acalanto. Depois de um culto, Orellana concedeu a ÉPOCA a seguinte entrevista
ÉPOCA – Por que falar publicamente sobre sua homossexualidade na condição de pastor evangélico?
Pastor Victor Orellana – Porque é um assunto velado dentro das igrejas e, por causa disso, ignorância e preconceitos são perpetuados. É necessário que o assunto seja debatido em toda a sociedade. O homossexual não é alguém que mora longe ou está do outro lado da rua. Ele pode ser um amigo nosso, um irmão ou um filho. Quanto mais conhecimento existir sobre o tema, menos sofrimento haverá para todas as partes envolvidas.
ÉPOCA – A homossexualidade e a Bíblia não são incompatíveis?
Orellana – De maneira alguma. Os homossexuais têm dificuldade de se ver aceitos por Deus porque as pessoas dentro das igrejas são preconceituosas. Mesmo os homossexuais religiosos têm preconceito. Muitos jovens entram em conflito porque pensam em exercer a espiritualidade cristã e as igrejas os impedem. São espezinhados, excluídos ou humilhados. Penso que a igreja não pode ser parcial nisso. Não pode escolher alguns e deixar outros de fora de seu rebanho. Ela é a representante de Deus na Terra e deve acolher a todos. Cristo jamais lançou fora ninguém, ele tem amor incondicional. Eu pessoalmente já passei por preconceitos quando fui ordenado pastor. Disseram-me que eu estava errado, em pecado.
ÉPOCA – Chegou a acreditar nisso?
Orellana – Nasci numa família evangélica. À medida que ia crescendo, maior era meu encontro com a fé. Entrei na Assembléia de Deus e no seminário para seguir o que senti ser um chamado de Cristo.
Ao mesmo tempo, fui tomando consciência de minha homossexualidade. Desde criança tinha sentimentos por homens, mas os reprimia. Isso mudou quando estava na Assembléia e um dirigente de minha congregação, um homem mais velho, me assediou. Pensei: ‘Porque eu me culpo a ponto de me anular, enquanto dentro da igreja há esse tipo de hipocrisia?’ Decidi aceitar minha orientação homossexual.
ÉPOCA – Contou à família?
Orellana – Minha família sabe há sete anos. O rosto fechado veio da minha mãe. Toda mãe espera muito dos filhos. E se você se nega a cumprir as metas que ela planejou é como se destruísse seus sonhos. Mas sou existencialista, creio que cada um tem a própria vida para viver. Meus irmãos me compreenderam melhor.
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